03/02/2014
Concessões atraem maior demanda.

Enquanto o volume de passageiros nos aeroportos estatais do país caiu em 2013, as primeiras empresas privadas do setor - que assumiram terminais há cerca de um ano - tiveram crescimento. Em Guarulhos (SP), ou Cumbica, Viracopos (SP) e Brasília (DF), as concessionárias conseguiram trazer em 2013 mais 4,3 milhões de viajantes sobre 2012. O aumento ocorre antes da conclusão das obras de expansão e, por isso, sobrecarrega os já lotados terminais.

Além da evolução natural dos grandes aeroportos do país, que já viam os números de passageiros aumentar ano a ano, as concessionárias estabeleceram estratégias para incrementar as receitas já no primeiro exercício de operação. No caso da administradora de Guarulhos, a GRU Airport - controlada pela Invepar (de fundos de pensão e OAS) -, segundo informou, duas grandes estratégias foram adotadas.

A primeira das medidas foi multiplicar o número de voos, especialmente por meio da atração de mais companhias aéreas. Sete novas empresas começaram a operar em Guarulhos em 2012, entre elas a US Airways. A concessionária buscou também trazer mais voos e conexões dentre as empresas que já operavam no aeroporto. A segunda medida foi incentivar as companhias, principalmente as internacionais, a usar aviões de maior capacidade. "Com o mesmo número de voos, conseguiríamos atrair mais passageiros", disse Antônio Miguel Marques, presidente da GRU Airport, ao Valor.

As medidas fizeram o número de passageiros em Guarulhos subir para 36 milhões de viajantes em 2013, um crescimento de 9,8% em relação ao ano anterior. No mesmo período, a soma de passageiros em todos os 63 aeroportos administrados pela estatal Infraero caiu 0,6%.

A expansão em Guarulhos foi ainda mais robusta quando analisados somente os números de dezembro: houve uma movimentação de 3,4 milhões de passageiros em 30 dias - um aumento de 21,6% em relação a um ano antes. Caso fosse anualizado, o número registrado no mês representaria 44 milhões de passageiros no ano.

Como o nível ideal de conforto em Guarulhos estabelece atualmente um limite imaginário de 25 milhões de passageiros ao ano, o aeroporto operou em 2013 com um movimento 44% superior a sua capacidade. Em dezembro, foi um volume 76% acima do ideal. Tudo isso gera transtornos ao passageiro. Quanto mais gente no mesmo espaço, mais desconforto ao usuário. "Não é o que queremos dar ao nosso cliente", afirma Marques. Segundo ele, atrasos nos voos não são oriundos da superlotação, mas sim devido a efeitos meteorológicos e, em menor proporção (9%), aos efeitos das obras - que precisam interditar parcialmente as operações na pista.

Essa realidade só mudará a partir de maio, com a inauguração do novo terminal, voltado exclusivamente a voos internacionais. Terá capacidade para 12 milhões de passageiros ao ano. O que não for absorvido pelo novo terminal (hoje o aeroporto movimenta 12,5 milhões de passageiros de voos internacionais), continuará sendo movimentado no terminal existente.

A empresa corre contra o tempo para completar as obras, conforme determina o contrato de concessão. "Vamos inaugurar no prazo", garante Marques. Para 2014, a previsão é repetir o crescimento visto no último ano.

Em Brasília, o aeroporto da Inframérica (controlada pelo grupo Engevix e pela argentina Corporación América) teve crescimento de 4,5% em número de passageiros. Atingiu 16,6 milhões de passageiros. Boa parte dessa evolução ocorreu no segundo semestre, em boa parte influenciados por ações da concessionária. Duas novas companhias aéreas - Aerolíneas Argentinas e Air France - passaram a operar em Brasília. Além disso, o aeroporto atraiu mais voos de conexões (8% a mais). "Estamos atraindo as empresas aéreas, apresentando o plano de crescimento. As companhias têm acreditado não só na estratégia como na velocidade das obras e já estão buscando preencher o espaço dos nossos 'fingers' [pontes de embarque]", diz Alysson Paolinelli, presidente da Inframérica.

O aumento acontece em meio a uma operação tumultuada, por causa dos trabalhos de expansão. Diferentemente dos dois empreendimentos em São Paulo, as obras são feitas de maneira mais próxima ao terminal atual - o que afeta o movimento de aeronaves. "Um aeroporto em obras é um desafio. Tem mais ruído, às vezes um operário passa carregando uma barra, o passageiro fica incomodado... Mas já, já isso acaba e em breve o aeroporto não deverá nada para nenhum grande aeroporto do mundo", afirma o executivo. Enquanto as obras prosseguem, a companhia continua buscando crescimento. Para 2014, a meta é movimentar 4,5% passageiros a mais sobre o ano anterior. Nos próximos anos, o crescimento será de 4,5% a 5,5% ao ano.

Em Campinas, onde opera outra concessionária, a expansão em 2013 foi de 4,9% - para 9,3 milhões de passageiros. Nesse caso, o crescimento se deve a novas posições de aeronaves, além da evolução natural do terminal, que já vem crescendo nos últimos anos. "Se nós não tivéssemos tido uma melhora excepcional [na infraestrutura], possivelmente ainda teríamos crescido, mas com muita reclamação dos passageiros. Não é o que está acontecendo [as reclamações]", assegura Luiz Alberto Küster, presidente da Aeroportos Brasil Viracopos - controlada por Triunfo Participações e Investimentos (TPI), UTC Participações e Egis.

O executivo afirma que ainda não foi possível atrair novas companhias aéreas e que isso continua sendo uma meta da empresa. Atualmente, operam no aeroporto a portuguesa TAP, além de TAM, Gol, Azul e Avianca. O plano é trazer novas aéreas após a inauguração do novo terminal internacional, prevista também para breve, e principalmente depois da propaganda proporcionada pelas seleções que transitarão em Viracopos durante a Copa.

Dos 32 times classificados para o torneio, 15 escolheram ficar no Estado de São Paulo, graças à proximidade de Viracopos e de Guarulhos. Ao menos sete vão usar o novo terminal internacional em Campinas, que será inaugurado em maio. Küster conta que, só para a chegada do jogador português Cristiano Ronaldo - eleito o melhor do mundo neste ano - estão previstos 200 jornalistas internacionais fazendo a cobertura. "Imagine a mídia gratuita", menciona o executivo.

Fonte: Valor Econômico
 
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