11/06/2014
UBS: investidores não devem subestimar impacto da Copa. 
 
Normalmente os investidores fazem pouco caso sobre o impacto da Copa do Mundo na economia e em seus portfólios. Eles estão corretos, já que historicamente há pouca ou nenhuma correlação entre os movimentos do mercado financeiro e o fato de um país sediar ou ganhar o torneio, afirmam Jorge Mariscal, Andreas Hoefert e Alejo Czerwonko, especialistas em investimentos do UBS, em relatório divulgado com exclusividade para oValor. Mas esta Copa é diferente, alertam. Para o UBS, os investidores deveriam tratar o torneio que começa amanhã como uma exceção.


"Os investidores não deveriam subestimar o impacto da Copa do Mundo no futuro político do Brasil e o que isso significa para sua economia e mercados", escrevem os especialistas. Há dois motivos para isso. O primeiro é que a falta de apoio popular à Copa é sem precedentes para um país como o Brasil, onde a paixão pelo futebol é profunda. Isso salienta o elevado nível de frustração da sociedade com a falta de infraestrutura e segurança pública e os altos níveis de corrupção.


O segundo motivo para esperar efeitos dos campos sobre as carteiras, segundo o UBS, é que se a Copa do Mundo for um fracasso, o sentimento socioeconômico de curto prazo será bastante negativo. "Isso poderia significar o fim para a presidente em exercício Dilma Rousseff, que está lutando para reunir votos suficientes para a reeleição", escrevem os especialistas. Nenhuma outra Copa do Mundo na história esteve tão entrelaçada com a política e o futuro econômico de um país quanto esta, segundo o relatório.


Os modelos de previsão usados pelo UBS apontam o Brasil como claro favorito para vencer a Copa. Nada a se descartar, já que Hoefert, economista-chefe e diretor de investimentos para a Europa do UBS, previu corretamente a vitória da Itália em 2006, ainda que lamente não ter tido desempenho tão bom quanto o do polvo alemão que estimou corretamente o resultado de oito jogos em 2010.


O sistema usado pelo UBS é o "Elo rating", desenvolvido pelo físico Arpad Elo para ordenar jogadores de xadrez e adaptado para medir a força dos times à véspera da Copa. O Brasil começa os jogos com o maior "Elo rating" na história. A má notícia é que, com exceção da Alemanha em 1974, nenhum time no topo do ranking ganhou a competição.


O fato é que, se a seleção ganhar e o torneio correr bem, escreve o UBS, Dilma Rousseff deve se beneficiar de um fortalecimento no apoio à reeleição. Por outro lado, se a seleção tiver um desempenho vergonhoso ou se houver um grande revés na organização do evento, o resultado deve ser um descontentamento generalizado, que pode facilmente mudar o equilíbrio de poder em favor da oposição. "Esses dois resultados implicam padrões muito diferentes para a economia brasileira e os preços dos ativos financeiros locais", afirmam os diretores de investimento.


Paradoxalmente, segundo o UBS, problemas econômicos de curto prazo e um sentimento anti-Dilma poderiam ser positivos para os mercados financeiros. A referência é a recuperação recente na bolsa brasileira como um resultado do avanço dos candidatos considerados pró-mercado nas pesquisas eleitorais.


Com isso em mente, segundo os especialistas, os investidores deveriam estar atentos à possibilidade de que desapontamentos com a Copa do Mundo possam colocar uma pressão altista nos mercados brasileiros e vice-versa. Mas, dependendo do grau, o desencanto também pode ser muito ruim: se a infraestrutura existente se provar insuficiente ou os protestos causarem interrupções graves, segundo o UBS, isso pode fomentar o sentimento negativo dos investidores globais sobre o Brasil ou mesmo a respeito dos emergentes em geral.


Para o UBS, os investidores devem ver a agitação no Brasil como um possível ponto positivo para os mercados, se isso significar mais pontos para uma candidatura pró-mercado. Eles também não devem descartar, entretanto, um cenário em que a desilusão geral com o país se intensifica.


Para quem ainda prefere se apegar ao histórico, o UBS estudou o desempenho dos mercados de ações em moedas locais dos países que ganharam a Copa desde 1974, com exceção das vitórias argentinas, para as quais não há dados disponíveis. Em seis de oito casos, a bolsa local teve resultado pior do que o MSCI World Index na semana que se seguiu à final. No mês seguinte, o número dos que perderam para o índice caiu para três.


Fonte: Valor Econômico

 
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