02/01/2015
Brasil mais barato movimenta fusões e aquisições em 2015.

Uma combinação de ativos mais baratos e oportunidades de consolidação em alguns setores começa a animar investidores a ir às compras no Brasil. Mesmo com os prognósticos de mais um ano de baixo crescimento econômico, bancos que assessoram processos de fusões e aquisições esperam um 2015 movimentado para essas operações.

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O Brasil não saiu do mapa, apesar de tudo", afirma Antonio Pereira, chefe do banco de investimentos do Goldman Sachs no país. "Há uma quantidade boa de investidores achando que é um bom momento para vir ao país."


A desaceleração da economia e o mau desempenho da bolsa mudaram a referência de valor das empresas brasileiras, que ficaram mais baratas tanto em termos absolutos quanto na comparação com outros países.


Além da correção de preços em si, o dólar subiu, tornando o ajuste ainda mais forte. A cotação da moeda passou de R$ 2,36 no fim do ano passado para o patamar atual, acima de R$ 2,60.


Essas condições devem favorecer especialmente a movimentação de fundos de private equity, que investem em participações em empresas. Gávea, Advent, Pátria e outras gestoras de recursos concluíram em 2014 uma nova rodada de captações, na qual foram levantados cerca de US$ 9 bilhões. É um dinheiro que será usado em aquisições nos próximos anos.


"Cresceu muito a presença de investidores financeiros em fusões e aquisições no Brasil e as novas captações indicam que vai continuar assim", afirma Marcus Silberman, corresponsável pela área de fusões e aquisições do Bank of America Merrill Lynch (BofA) na América Latina.

Gestoras de private equity costumam ser sensíveis a preço e mais ágeis para investir que os empresários, o que deve torná-las protagonistas dessas operações no próximo ano.

Investidores financeiros têm participação crescente nos processos de fusões e aquisições no mercado brasileiro e já representam cerca de um terço das transações. A presença deles se tornou mais significativa nos últimos sete anos, quando os grandes fundos globais se instalaram ou ampliaram sua presença no país.


De 2013 para cá, no entanto, a atuação dos fundos e também de investidores estratégicos se tornou mais seletiva por conta da economia mais fraca. Quem busca a aquisição de uma empresa costuma ter em vista um horizonte de longo prazo e, portanto, é menos suscetível a oscilações no Produto Interno Bruto (PIB) de um ano para outro, mas não é imune às más notícias. Além disso, o calendário entrecortado e a forte volatilidade no mercado atrapalharam o andamento das operações neste ano.


"É difícil um conselho de administração tomar uma decisão de investimento quando o mercado está muito volátil", diz Patricia Moraes, corresponsável pelo banco de investimentos do J.P. Morgan no Brasil. Segundo ela, o telefone "voltou a tocar" logo após as eleições, quando o cenário ficou mais claro.


O ano passado deve registrar queda no volume de transações anunciadas. Segundo a Dealogic, empresa britânica que compila dados de mercados, o total desde janeiro soma US$ 53,9 bilhões em 650 operações. É um recuo de mais de 20% frente aos US$ 70,2 bilhões em negócios de 2013.


Apesar disso, a avaliação corrente entre os assessores financeiros é que o ritmo de atividade foi bom. "O mercado brasileiro nos últimos três anos tem sido razoavelmente constante, o que é um sinal de amadurecimento", afirma o chefe do banco de investimentos do Credit Suisse, Fabio Mourão. "Não vejo por que 2015 seria diferente."


Em alguns casos, fusões e aquisições têm sido uma alternativa ao mercado de capitais, que esteve fechado durante quase todo o ano. Houve apenas uma oferta inicial de ações em 2014 - da companhia de saúde animal Ourofino. A empresa chegou a cogitar a venda de seu controle, mas conseguiu chegar à bolsa após garantir a venda de parte dos papéis à gestora de fundos de private equity General Atlantic (GA).


Caminho inverso foi trilhado pela Aceco TI, de construção de data centers. A GA, que controlava a empresa, cogitou vendê-la na bolsa, mas acabou optando por uma transação com outra gestora de private equity, a KKR.


A despeito do volume menor em dólar, em 2014 foram anunciadas operações de grande porte - como a compra da GVT pela Telefônica por € 7,5 bilhões; a fusão entre as empresas de logística ALL e Rumo e a transação na qual a Cielo vai colocar R$ 9 bilhões em uma joint venture com o Banco do Brasil na área de cartões.


Telecomunicações e serviços financeiros são setores que devem continuar gerando negócios no próximo ano. No primeiro, há um processo de consolidação em curso e já existem conversas entre as operadoras TIM e Oi. Educação, varejo e infraestrutura também são apontados pelos banqueiros como segmentos com negócios em potencial.


No caso de infraestrutura, a expectativa é que os desdobramentos da Operação Lava-Jato da Polícia Federal - que investiga um esquema de lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo a Petrobras - levem empreiteiras e fornecedores da estatal a vender ativos.

"Muitos ativos desse setor requerem investimento pesado e as empresas vão precisar de capital para isso. Outras vão ter de vender participações para se reestruturar", afirma Alessandro Farkuh, diretor responsável pela área de fusões e aquisições do Bradesco BBI.


O cenário econômico difícil também pode provocar a reestruturação de companhias de outros setores, com potencial para venda de ativos, observa Hans Lin, corresponsável pelo banco de investimentos do BofA. "E, embora os investidores estejam mais seletivos, sempre vai ter gente interessada porque o Brasil é um mercado grande demais para ser ignorado", diz.

Segundo Patricia, do J.P. Morgan, o mercado vai continuar ativo, ainda que o mote das transações seja diferente do que colou o Brasil no radar dos investidores alguns anos atrás. "Sai de foco o crescimento, mas entra em cena a busca por eficiência, sinergia e liquidez", afirma.

Fonte: Valor Econômico

 

 
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